terça-feira, 28 de abril de 2009

Lembranças do passado que é ausente

Você já percebeu que costumamos dar muita ênfase aos momentos passados da nossa vida? Não é que deixamos de apreciar o presente, mas, sim, porque nos acostumamos a dar maior conotação às coisas de outrora, com lembranças de acontecimentos que reputamos ímpares, dando a entender que o presente nunca é tão bom como o passado।Em uma festa de casamento que aconteceu outro dia, encontrei-me com um punhado de gente amiga que há muito não via। Reparei que as lembranças de outros tempos, quando nos deparamos com pessoas que há muito tempo conhecemos, é o prato principal das conversas। Conversa com um daqui outro dali e, vira-e-mexe, os tempos passados entram em pauta, com um diferencial interessante, pois a saudade faz emergir boas lembranças, e as reações, configuram-se nas mais variadas, ora em sorrisos e outras até em lágrimas de emoção।Fiquei pensando qual seria a razão para nos apegarmos tanto ao passado e relegarmos o presente। Cá com meus botões, cheguei à conclusão de que é assim porque o passado não mais nos pertence; está distante de nós, nunca mais voltará e, por isso, é lembrado, analisado e festejado। Somos assim mesmo, damos valor às coisas boas quando não mais a temos। O presente está presente, o passado ausente। Esse é o nosso comportamento e disposição. Valorizamos as coisas depois que as perdemos. Reconhecemos e verificamos o que é bom somente depois, nunca no momento em que o vivenciamos. Não paramos para analisar o que está acontecendo, como estamos vivendo, o valor das pessoas que estão ao nosso lado, os amigos queridos que temos, e a alegria que desfrutamos no dia-a-dia. Deixamos o presente para depois. Somente quando vira passado, aí, então, bate-nos a saudade. O ser humano é considerado o animal mais inteligente do planeta Terra, no entanto, certos comportamentos fazem como que duvidemos da tal inteligência. Afinal, o passado um dia foi presente e, se hoje ele é reverenciado, cortejado e festejado, é porque nosso coeficiente de inteligência não nos permite conhecer o belo quando ele está em nossas mãos ao vivo e em cores. E, assim, o presente torna-se reconhecido quando ele vira passado. Despertamos para o valor das coisas muito tempo depois.Outro dia, encontrei-me com meu amigo Demósthenes, grande esportista, professor de educação física de várias faculdades deste nosso País, filho do grande empresário paraguaçuense e também amigo, Dervil Mantovani, e a nostalgia entrou em cena, com lembranças de momentos inesquecíveis que vieram à tona. Contei-lhe que um empregado do seu pai, o senhor João, que era meu grande amigo, um dia descobriu que era a pessoa mais feliz do mundo, e que morava em um paraíso. Disse-me, o Sr. João, que somente depois que fez 65 anos de idade é que notou que era realmente feliz. Cobrei-lhe a explicação para a maravilha de sua descoberta, e ele me contou: “Eu estava em casa descansando, numa tarde de domingo, quando recebi a visita do Dervil Mantovani. Enquanto conversávamos, Dervil olhou toda a chácara, as árvores, os animais e a minha família. De repente, ele virou-se para mim e disse: ‘João, você é um cara de sorte, e muito abençoado. Mora em um paraíso, numa bela propriedade rural, uma casa linda, com uma paisagem maravilhosa, que somente vi nas telas de cinema, sem falar na família linda que tem, você deve ser muito feliz’”.Segundo o sr. João, as palavras do Dervil nunca mais foram esquecidas e, na ultima vez que conversamos, ele me falou: “Eu realmente nunca havia percebido que morava num paraíso e que minha família era tão maravilhosa. Pena que eu enxerguei estas coisas somente aos 65 anos de idade”.Exatamente uma semana depois desta nossa conversa, o meu amigo João faleceu. Suas últimas palavras ficaram em minha memória e eu as tenho como uma lição de vida. Devemos acordar enquanto é tempo, abrir os olhos para enxergarmos a vida, desfrutarmos do paraíso onde moramos, e agradecer todos os dias pela bênção da nossa família.O presente deve ser vivido intensamente, como presente, e não reverenciado e valorizado no passado, quando ausente. Ediney Taveira Queiróz